Curso intensivo de implosão de carreira em 90 minutos - Créditos Marc Tawil Sócio e diretor criativo em Dialoog Comunicação - Linkedin.com

É impossível resumir a arte de Chico Buarque apenas 90 minutos. Mas uma peça de teatro, Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos, conseguiu chegar perto. E com méritos – tantos méritos, que até o recluso Chico esteve no teatro para assisti-la, na primeira temporada, no Rio de Janeiro. Gostou, aplaudiu e posou sorridente com o elenco.
Convenhamos, foi um feito e tanto.
A peça é um apanhado de alguns sucessos de Chico Buarque ao longo da sua extensa e consistente carreira. Alguns mesmo, pois são mais de 50 discos, e ainda musicais, livros, vídeos, peças e uma obra que começou há mais de meio século, tijolo por tijolo num desenho lógico.  
Tive a oportunidade de assistir a Todos os Musicais em São Paulo, no ano passado. Como fã de Chico, gostei do que vi: bons atores, figurino impecável, música, letra e melodia de cortar o sopro. Chico.
O protagonista, Claudio Botelho, se não é um Chico Buarque excelente, nitidamente se preparou para ser. Carismático, em alguns momentos soa como o Chico de nosso imaginário: audaz, divertido, sagaz, sedutor, da cana e sacana, como a Ana de Amsterdam. 
Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos não é apenas encenada por Botelho. Também é produzida e dirigida por ele, que é sócio da produtora Möeller & Botelho, responsável por musicais de sucesso como A Noviça Rebelde, HairCinderella, atualmente em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo.
O barraco
Pois bem. Mesmo com todas essas credenciais, Botelho vem sendo notícia desde domingo não por seus dotes teatrais, mas por protagonizar um barraco com seu próprio público no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, com direito a cancelamento de show no dia seguinte e, pior, um sofisticado chega pra lá daquele que ele diz ser sua maior inspiração: o verdadeiro Chico. Desastre.
O que de tão grave fez Claudio Botelho?
Em dado momento da peça, o ator improvisa: “Onde estão as pessoas dessa vila? Assistindo novela? Ou será que estão assistindo à prisão de um ex-presidente? Ou de uma presidente ladra que vem sendo vítima de impeachment?”
A indignação de quem só estava ali para curtir 90 minutos de boa música foi imediata. Aos gritos de “não vai ter golpe!”, a plateia bateu boca com o ator. Este nâo se fez de rogado: avisou que quem não estava satisfeito seria ressarcido.
“O governo militar interrompeu uma apresentação de Roda Viva, em 1969. E agora vocês interromperam o nosso Roda Viva”, disse Botelho, em vão, antes de deixar o palco. 
#vetaChico
A peça, que estava encantando a sala lotada, acabou ali mesmo, sob vaias e ameaças de agressão. Três viaturas da Polícia Militar foram chamadas para acalmar os ânimos. Na era do YouTube e dos smartphones, em menos de uma hora, o escândalo já estava na rede.
Surgiu até uma hashtag, a #vetaChico, pedindo que o cantor e compositor impedisse Botelho de trabalhar com suas canções no palco.
E foi o que ele fez. 
“Chico não deve dar nenhuma declaração, mas pode registrar que ele reagiu primeiro com espanto e, depois, com grande desagrado ao saber da postura do ator”, declarou ao Estado de Minas o assessor do artista, o jornalista Mario Canivello. O cantor teria, inclusive, dito que irá proibir que Botelho use suas músicas de agora em diante. Fiasco.
Acusação de racismo
O descontrole de Botelho foi além do palco do Sesc Palladium. O ator ainda bateu boca com sua colega Soraya Ravenle, soltando uma série de impropérios e dando a entender que a porta era a serventia da casa.
Para seu azar, a conversa foi gravada e colocada na internet pela Mídia Ninja. E, no ar, ganhou um tom bem mais grave: uma acusação de racismo.
Teria dito ele: “Um ator não pode ser peitado por um negro, por um filho da puta”. Botelho rebateu. Insistiu que jamais falou negro, mas sim nego. “Eu falei ‘nego’, que é uma gíria muito usada no Rio quando se quer falar ‘cara’, ou seja, sobre alguém indeterminado”, afirmou, ao Estadão. A gravação e o trecho polêmico estão aqui:
Onde Botelho errou?  
Infelizmente para ele e seus companheiros de cena, Botelho errou em tudo. Não só no palco, mas também nos camarins e em todas as entrevistas que deu na sequência, acredite ou não, culpando seu público por uma postura “fascista”. 
Uma rápida sapeada no Facebook do ator, porém, mostra um discurso de ódio bem condizente com o “improviso” de sábado à noite. 
Seis passos fatais 
1. Usar do palco para externar uma opinião política própria, sendo que ninguém estava ali para isso.
2. Ignorar o momento político do País – ou, pior, afundar ainda mais o dedo na ferida aberta, sem medir qualquer consequência de seu ato.
3. Vociferar um discurso agressivo de direita, colocando palavras na boca de um dos maiores músicos do País, notoriamente de esquerda, amigo de Dilma e Lula.
4. Expor seus colegas de palco, produtores, iluminadores e outros que nada tinham a ver com isso e agora ficarão marcados pela peça.
5. Berrar, a ponto de ser gravado, com uma colega, justificando a enorme m. que havia feito.
6. Passadas algumas horas, quando poderia se retratar, seguir atacando o público, chegando a dizer à imprensa que se tratavam de militantes organizados e mal intencionados, sendo que o improviso partiu dele.
Botelho foi ingênuo ao desafiar a inteligência do público, inconsequente com a própria carreira, egoísta com os colegas, intolerante e bastante preconceituoso. 
Ao bancar o valente politizado e tentar jogar lenha nessa imensa fogueira que se tornou o quadro político do Brasil, escorregou e caiu sobre as brasas. Queimou o legado da peça, que vinha muito bem, e a própria imagem. 
Sobre sua infeliz declaração, “um ator que está em cena é um rei, não pode ser peitado”, lamento informar, mas o rei que as pessoas foram ver ali era outro.
Apesar de você, Claudio Botelho, e do seu discurso recorrente de ódio, amanhã há de ser outro dia.
Update 18h. E o outro dia chegou para Botelho.
Franco e visivelmente abalado, em um extenso post o ator e autor pede desculpas sinceras pela explosão de raiva do último sábado, em Belo Horizonte:
“Errei. Erro muito. Sou humano, mas isso não me desculpa. Aos 51 anos, sendo também autor e sendo um homem de história longa no teatro, eu tinha por obrigação preservar o autor e sua obra, não permitir que nada partindo de mim resvalasse nele, seja da forma que fosse. Por ser um admirador apaixonado e mais que isso, um pretenso buarquiano de carteirinha, minha responsabilidade é ainda maior... Envergonhado por ferir um estatuto sagrado do Teatro – respeitar o autor e público –, tenho obrigação de invocar novamente a única palavra que me parece oportuna neste momento: perdão”.
Errar é humano, perdoar o erro é divino, mas admitir é nobre.
Aplausos. Fecham-se as cortinas. 

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